segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pequenas iluminações noturnas

“eles ainda não sabem que o prazer é a maior representação da vida”

     


Uma luva vermelha me acerta em cheio a maçã do rosto. Ela sorri como quem diz: não queria acertar tua maçã. Masoquefazeragoraqueelasorripramim? Beijo. Ela sorri novamente. Ela sempre sorri como quem pede perdão. Acerto delicadamente sua testa oleosa cheia de cravos e espinhas. Ela me acerta o peito.
                                Não seria mesmo o amor uma luta?
E nós caminhamos pela casa lutando um boxe familiar de socos intercalados com beijos. Nunca havíamos nos beijado antes, seu hálito me lembrava o gosto de pêssegos frescos colhidos no pé após amar secretamente na inocência infantil: os pêssegos desta forma têm o sabor das maçãs.
                                Não seria o amor a perda de si, ou seria o livramento?

Um carro a cem por hora. Um carro chumbo como todos os carros chumbos. Nossa família voando baixo para fugir da solidão que ataca a todas as famílias. Paramos frente a uma igreja branca. É que as igrejas dessas pequenas cidades de interior são sempre brancas como a imensa barba de Deus. (Deveria eu pedir perdão por todos esses anos de blasfêmias de putaria de poligamia e de tudo aquilo eu um bom cristão não deve fazer? Ainda tem o álcool, de vez em quando a maconha, uns milhares de cigarros após as transas e ainda as milhares de punhetas que toco pensando em aventuras sexuais que nunca terei).

A igreja branca rodeada por uma feira. Uma feira igual a todas as feiras dessas pequenas cidades do interior. As barracas de doces. As barracas de enfeites ridículos. As barracas de pastéis. As barracas sempre vendem tudo. Entre nossa família e as barracas: um poço. Nós andaríamos entre as barracas (como caranguejos que somos) em busca de alguma chama para reatar os nossos laços: entre nossa família e nós mesmos: um poço.

Um cara se aproxima de mim. Um cara como todos os caras dessas pequenas cidades do interior. Olho. Seus olhos são escandalosos. Ele me pede fogo. Meio desconfiado coloco a mão direita no bolso, não encontro nada. No esquerdo. Ah, sim. Toma aqui parceiro. Ele coloca a mão direita em uma bolsa de couro. Uma grande bolsa lateral de couro cru, como as bolsas feias que eles vendem nessas pequenas feiras de cidades pequenas. Deve ser só mais um hippie. Retira um frasco de vidro. Acho que ele vai tomar um gole antes de fumar. Ele me olha. Olho o pequeno frasco em suas mãos. Seus olhos ainda continuam em chamas. Penso que deveria ter lhe negado o fogo. Olho para o seu membro apertado dentro de uma calça de algodão também cru. Vejo que seu membro está ereto. Um grande membro ereto com a cabeça querendo fugir da calça. Mas o que será que esse cara ta pensado porra. De pinto duro no meio da praça assim sem mais nem menos? Vejo de relance que ele vira o pequeno frasco em cima dos doces.

Fogo!!!!!!!!!!

 Uma maçã-do-amor torrada. Uma maçã-do-amor ardendo em chamas. Várias maçãs-do-amor ardendo em chamas. Ele me persegue com o frasco de líquido inflamável. Eu corro desesperadamente em direção a igreja. Os anjos do senhor não virão me ajudar. Eles não me carregaram para um lugar distante e seguro. Não existem lugares seguros nas cidades pequenas. Não existem anjos nas pequenas iluminações noturnas. Corri desesperadamente sabendo que nenhum anjo apareceria com cordas divinas para me levar em um vôo seguro. As maçãs-do-amor explodem e ele sorri contente mostrando o vazio de alguns dentes que faltam em sua imunda boca.   

Eu estou deitado. Ela se posiciona sobre mim. Ela me dá boas bofetadas na cara. Sinto instantaneamente seu buraco sobre meu membro. Um quente e peludo buraco sobre meu membro. Eu sei disso mesmo ela ainda de calção. Mesmo sabendo que ela não queria nada além de uma boa luta de boxe. Não consigo me conter. Ela sorri quando sente meu membro crescendo sob seu buraco. Ela me beija longamente. E começa a se esfregar em mim. Eu gozo mesmo sem penetrá-la. Ela sorri. E tira seu calção de luta assim sobre minha cabeça, e vejo sua calcinha toda molhada. Ela se senta sobre minha cabeça, mas não deixa que eu tire sua calcinha. Diz ainda ser virgem. Ela se esfrega em minha boca. Coloco a língua com toda a força possível. Ela goza. Ela se veste e saí. Antes de sair me dá mais umas bofetadas. Eu fico estirado no chão frio com o membro duro. Com vontade de apanhar mais daquela infame lutadora. Tentei sorrir para demonstrar afeto. Ela já não me olhava. Restava agora me satisfazer sozinho com o cheiro tenro de seu sexo misturado com o algodão de sua calcinha em minha boca.

As pessoas saem correndo da igreja. Muitas pessoas. Parece-me que são milhares. Eu não sei contar a multidão.  Uma garota cega corre sem tropeçar. Os cegos sempre tropeçam, mas ela não, ela conhece bem o caminho da igreja. Ela corre em direção ao fogo. Em desespero tento conte-la, mas ela passa abaixo de minhas axilas e corre em direção ao fogo. O fogo toma conta de seu minúsculo vestido. A menina se torna uma bola de fogo cega. E menina grita e corre sem direção. As pessoas choram. A menina morre. Eu pergunto para um índio meio bêbado onde fica o puteiro. Ele diz que me levará até lá. Eu sorrio e o sigo. Acordo. Bato com força sobre uma vela ao lado da cama.  porque por um instante senti que a menina de fogo me abraçava pedindo ajuda.

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