segunda-feira, 28 de março de 2011

I'll leave my jacket to keep you warm
That's all that I can do
precisas adormecer teus demônios
& deixar
                 que eu deslize em teu corpo.
precisas te entregar na noite insana.
Quero roubar teu sono virgem:
              Quero escrever minha gula em teu ventre:
Quero adormecer com teu cheiro suave
de após a dor: o prazer.

poderia matar teus demônios.
poderia estrangular tua falsa inocência.

O amor é pagão.
Os demônios são
                 santos dependurados em tuas ancas.

Precisas adormecer em meu peito

& fazer dele tua casa
depois que eu roubar tuas asas.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Aos deuses que nasceram nas latrinas

I

“Olhai o cintilante conteúdo das latrinas”

Roberto Piva

Olhos de Velásquez teu corpo arderá em brasa nessa noite que escorre noturna como uma leucemia em nosso suor latino. Após me deleitar com seus cabelos de medusa, arrancarei teus olhos e te farei uma mondigliana Eu quero me banhar em sonetos noturnos de Jorge de Lima e tomar conhaque com naftalina fosforescente em mil tons agudos de Schumman. Assim como os violoncelos eu torcerei o teu pescoço nu e habitarei para sempre teus pesadelos e a tua boca inflamada. Descerei por tua garganta como um faraó maldito e em seu intestino recitarei poemas de Rimbaud. Assumirei a posição fetal e renascerei cagado em um sábado cinza que tu nunca esquecerás nem o modo libertino como sairei galopando em um pônei com asas de morcego cantarolando libertango e alimentando os fantasmas absolutos que se formam nas latrinas entupidas.    

Dedicado à Olhos de Velásquez

II

Os porcos mutilados comem as flores do jardim da América enquanto somos todos acometidos pela crise epilética da asfixia absoluta. Não tomarei este copo de poeira e sangue verde Não comerei orelhas de padres grelhadas no jantar. Centenas de ovos de codornas foram plantados nos cus dos hermafroditas utópicos enquanto putas sádicas corriam pela noite com seus chicotes de chacina. Escreverei meu nome com gilete nas tuas costas nuas esta noite. Lambendo cada gota de teu suor misturado com câncer e enfiando as chaves de deus no teu rim para abrir as portas de teu intestino. Não te preocupes não tenhas medo eu sou piedoso eu sou meio broxa eu sou meio afetado pela crise diabólica do capital. Escuto rock nas quintas à noite, mas sexta é samba. Quase morri com conjuntivite mas renasci no sábado em meio a neblina blasfematória me masturbando sobre o cinzeiro. Eu sou meio deus mas não sei perdoar. poderia te abraçar agora e te fazer sumir da terra te acoplando no meu peito. Vou espetar um milhão de pregadores na tua carcaça e te colocarei ao sol para ver a tua alma morrer de câncer de pele.

III

“contra tudo que não for loucura
ou poesia”

Jorge de Lima


Auto retrato de Mondigliani. Olhos marrons como cor de bosta nova. Antonia com tua cara de maçã. Retratos de mondigliani com seus olhos transpassados pela angustia. Não há solução. Nós morreremos de tédio cortando cebolas aos domingos sem fazer pactos macabros ou trapaças.

             Os deuses já se prostituíram
O amor é uma lenda no teu coração.

IV

Nós adentramos o mundo da magia pelo teu rim amaldiçoado. Os corações foram guardados em caixas de gelo seco & nosso espetáculo trashman arderá quando soarem as harpas dionisíacas. Elas começaram por comer toda a merda da vida elas começarão por convencer a todos a levarem adiante a merda da vida. Hoje entraremos nos casulos dos teus seios, amanhã sairemos borboletas mortíferas e promiscuas. Amanhã compactuaremos com as religiões indígenas. Faremos festas aos nossos totens, orgias/ cem mil orgias/ o mundo espetaculoso das drogas ilícitas nos espera. A paixão          febre contaminosa          dilacerando os corações amorfinados nós queremos mil paixões e menos tédio. Nós preferimos a crueldade dos mafiosos À burocracia dos funcionários. Nós louvamos os banheiros públicos e seu silêncio frente às taras libertinas. é necessário esquecer que há o futuro e celebrar com paixão o ócio e a selvageria.

V

Ao som de Waka/Jawaka de Frank Zappa

Tua alma tem mil isqueiros onde a noite arde. Teu cérebro goteja na retina das putas de família. Peça a benção ao deus ensurdecedor Escute o seu coração bater em mil em mil macumbas nos terreiros das periferias perdidos entre os amores não vividos. Nossa noite no inferno nunca teve um fim nossa noite no inferno é uma bênção ao coração contaminado pela bondade. Ouço soar as trombetas de Dionísio vejo Adriano, o imperador, encolhido num canto de um quarto escuro com uma rosa de espinhos enfiada no cú lembrando o deus menino afogado na beira do Nilo. Não há suor bastante para conter a nossa angústia. Nossa noite no inferno nunca teve fim.

VI

Vem buscar-me que ainda sou teu. E se você entrasse no quarto da minha alma com jabuticabas frescas e amoras espremidas no olho que já não vê eu te amaria ainda uma vez? Vem buscar-me que ainda sou teu: e te desejo, como se te perdesse para uma cabra fétida (reflexos de Kosisnki em seu Pássaro Pintado), e eu te desejo como um assassino à vitima. E se você entrasse na avarandado do meio peito iluminada pela discórdia eu te abraçaria como se a ultima vez, e sim ela seria, porque depois do afago: a dor. e o punhal já estaria em minha mão esquerda pronto para invadir o teu corpo virgem por uma única vez. Vem buscar-me que ainda sou teu...

Após Coração Materno, Vicente Celestino,
a canção que leva a crueldade humana à prova. 






quinta-feira, 24 de março de 2011

navio ancorado no espaço




“que tivesse um blue.
isto é
imitasse feliz
a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer...”

Ana C.


recorto do teu corpo nu
            só, a parte,
e à outra parte fica o breu
eu li no teu bloco novo
          o teu coração ateu,
ali, ele, jogado a meus pés
e teu corpo quis ter asas
o meu, marés.  



E querer




Queria que um só olhar meu fizesse crescer urtigas por sobre tua cama e que você não dormisse mais longe de meu corpo, esse meu corpo, no qual sou um efêmero estrangeiro. Queria te fazer virar do avesso num estralar de dedos e morder suas celulites das coxas com meu dentinho de ouro e te cobrir de pétalas de petúnias de esmeraldas de ametistas...

E a manhã flameja no universo inteiro que é o seu sorriso e meu sexo não é dócil, pode ser teu paraíso...

terça-feira, 22 de março de 2011




Leve as coisas leves que eu te disse aquele dia. e venha de leve pro meu sótão que levanta vôo quando tu chegas assim, meio despercebida, meio alarmista, com meios sorrisos leves. leve os presentes que te dei. leve no pulmão a fumaça leve dos cigarros-pós-trepadas-efêmeras, leve no seu passo leve os sorrisos que guardei pra ti, e vá dizendo que volta leve com seus pés de lã e com suas guitarras leves e dedos cobertos da neve que caiu naquela manhã.

Após reouvir Leve de Chico Buarque.

segunda-feira, 21 de março de 2011

recado




Te espero na garoa da praça com minha voz anavalhada de sinusite lendo poemas para abrir brechas nos paraísos. é bom você estar comigo em março que vou para marte mandar sinais de fumaça para o Jet set. Amo seu jeito de agradecer o fogo com o cigarro colado na  boca, amo o lençol desarrumado do sexo em desalinho. é bom você estar comigo em agosto quando eu estiver louco, quando eu estiver rouco, quando eu estiver sóbrio ou sombrio. Te espero na cama sábado e no áspero domingo quando você acordar do seu sonho louco abrindo os olhos e concebendo um novo universo à deriva.

Seppuku


à  Yukio Mishima, o último Samurai

I

E se só restasse à honra a defender
Em qual máscara eu iria esconder
o mais breve gesto
De amor?

sábado, 19 de março de 2011

Honey,

gostaria que você soubesse que os pêssegos e as ameixas ainda não estragaram. Ainda tento interpretar o seu olhar na janela quando está fumando, o jeito que você arruma seu corpo quando se senta, o jeito que você arruma o cabelo deixando-o todo do lado direito do corpo. Alguns pêssegos mofaram. Nem todos. As ameixas queimam no frio da eterna geladeira que é o meu peito. É engraçado, mas você não me faz falta alguma. Não precisa voltar. Deixe assim, meio ímpar, meio intacto o tudo aquilo que uma noite fizemos. Ou então faça assim, me apareça de surpresa numa noite de segunda feira, uma noite dessas em que parece estar chovendo dentro da alma (ou que parece que existe uma torneira quebrada na alma), e traga cigarros, e pergunte se ainda quero você e me ouça responder que não, porque certamente eu logo mudarei de idéia, eu logo te convidarei para entrar, eu logo falarei para você deitar sobre a cama... faça assim.
Sabe, hoje eu acordei meio azul, eu estou azul, eu não quero mais essa vermelhidão que há muito vem me consumindo dia a dia. você também poderia deixar para um encontro casual em sei lá, uma loja, por exemplo, uma loja onde eu esteja ali, procurando algum livro bom para passar a tarde, ou comprando uma camisa vinho de risca. não sei. deixe como está tudo sem miséria, sem piedade um do outro, sem apreço consumado na cama. eu não te amo, mesmo. E essa não é mais uma de minhas frases de efeito. você não é você e eu não sou eu ainda. se o amor acontece assim, sem explicação, ou com as melhores das explicações do tipo: porque era ela, porque era eu. nenhum de nós somos ainda ela ou eu.
 É, honey, ainda não nos amamos ainda não nos sentimos prontos para amar um ao outro assim no meio do de repente, porque ainda não existe no entanto no meio da noite assim enquanto eu durmo e você fuma aquele ultimo cigarro antes de dormir, entende? A única coisa que eu queria era deixar você bêbada chapada e nua na beira da estrada e levar seu coração comigo e nunca mais te ver. Pode ser assim entre nós? ou precisa ser aquele fogo, aquela chama que se apaga e aí logo vem aquela coisa imbecil que as pessoas fazem umas pelas outras que é ficar junto e deixar que o mundo estrague o tudo e o todo. Aí virá aquela coisa de suportar ou não ficar com a outra pessoa. Eu não quero isso entre nós. eu não quero acordar do seu lado e ver que não é do seu lado que eu queria estar. Eu não quero querer bem. Só a doença do começo, a doença da paixão do querer estar junto e tudo e não poder porque você não pode se mostrar para a pessoa da forma que você realmente é, você só pode se mostrar do jeito que você é por fora, porque é só pelo de fora que as pessoas se interessam, o de dentro é muito chato, é muito infantil, é muito estranho. Faça assim: espere a chuva; saia de casa e compre cigarros; venha a pé; chegue de surpresa no meio da noite e me chame sussurrando na janela; fale que você trouxe cigarros, mas eles já estão todos molhados; pergunte se eu tenho algum conhaque, alguma coisa para esquentar; se pode tomar banho; e depois se deite, se deite e me aceite.

Sem mais,


Pérsio.     


sexta-feira, 18 de março de 2011

Improvisos em si para que tu me compreendas


Ao som de Waka/Jawaka
Frank Zappa



Felizmente ali estavam os cavalos com suas armas de segurança e seus topetes flamejantes.

Os cigarros consumados florescerão sobre o jardim.

 - Você precisa de um canivete, o lança-chamas não é seguro.

Convulsões e epilepsias: palavras contra o feijão: Não serás mais o mesmo.

Três ciganos soterrados nas areias movediças. Leia minha mão. Conceba o universo nesta noite que faz 10 graus nos trópicos.
  
Escorpiões e caranguejos caminhando sobre a neve.

Lagartos chorando lágrimas frias as vinte e três horas de um sábado de maio.

Escutando um tributo para o Marquês de Sade.

Resolvendo problemas humanos através da pornografia exacerbada.

Barulho de gota na pia.

água misturada com os cabelos da minha amada. Cenas de cinema: asas asas asas.

Fumaça na cidade. corpo transpassado por uma lança. Bombas caseiras e garotas pervertidas e cegas.

Freqüências e canais equalizados%%%%%%%%$$$$$$%%%%%%%$$$$$$

Você não era uma alcoólatra, era?

Ela estava deitada sobre sua imensa barriga branca. Fedia. Há dias que não entra embaixo d’água. Leva a mão até garrafa ao lado da cama e toma o líquido da salvação. As moscas dominavam o quarto tão sujo quanto a dona dele.

Gato morto sete vezes. Onças famintas e portadores de hepatite amando a Baudelaire.

Cinto de ferro açoitando Masoch. Fenda na alma. Lama fétida. Outro cigarro.

Estante de livros pegando fogo em 60 polegadas.

Unhas arrancadas e rostos esfarrapados. Novamente o frio.

Um motor azulado. Uma roupa feminina. Um falo de borracha. Dinheiro engavetado.




As putas libertadas escutando jazz.




O fogo da minha filha entardecendo seu intestino.

Relaxe. Faltam só mais alguns anos.   

 Novamente os cavalos.

(Ao gosto de um jazzman.)

De tudo


para ler ao som de El todo,  Omar Rodriguez-Lopez.

olha,
me ouve,
eu sei, houve
no nosso amor
muita dor,
luta
& desespero.

(sob a influência  de "a flor de vidro", de Rubião)


De Dentro


Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do 
coração.


Ana C.



de dentro
do som desse peito passional
num táxi partindo a cem
ou a mil pra zona sul
Sinto:

um jazz: Davis
In improvisation:
um louco no sax, mas não duvide:
É jazz.

Que se confunde com um cavalo em chamas
& entra pelos ouvidos
    & espalha pelos pêlos
                       e morre na dissonância
do coração partido
                        de Ana C. 

Confissão de Pérsio

E o mais bonito foi quando ela descobriu
 que podia ouvir e entender estrelas.”

Caio Fernando Abreu

 - Sabe, um dia consegui escutar as estrelas e elas não diziam coisas bonitas, como todo mundo pensa. não porque não queiram dizer coisas como: “sempre amou Petúnia” ou “trouxe flores de plástico para você, flores que não morrerão, assim como nosso amor” ou “- Quer fumar? - ofereceu, mas sabia que era como se dissesse qualquer coisa feito ‘não se dilacere sem necessidade, meu bem’.” ou ainda “I wanna give you the world if you just stay with me tonight. mas porque naquele momento em que escutava-as, eu tinha a plena certeza de que estava completamente só. você já ouviu as estrelas? não? então você sempre teve alguém a seu lado. alguém que diz mais coisas a você do que dizem o cigarro e o conhaque, quando perco o sono, e você não está em seu sonho inalcançável, nua, a meu lado.

 Então ela disse que ficaria até o sol nascer, mas não dormiria, zelaria o sono dele, Pérsio, o cara que disse que as estrelas não eram assim tão boas, porque só sabem dizer à solidão.