segunda-feira, 4 de abril de 2011

pomba-gira do absoluto

I

Eu sou uma metralhadora em estado de graça

Roberto Piva


Imensa boca submersa
Quando teus dentes pagãos soprarão canções malditas?
Quando tua língua libertina lamberá meu crânio?
Vejo a baba que escorre na tua gengiva
Como de uma vulva raspada a navalha

Fostes tu quem me engolistes para o inferno
Imensa boca,
Eu não saberia cantar o ódio a não ser de tua garganta,
           Por que tu me comoves?
Por que teu céu é tão cinza?

Eu caminhei sobre os poros de tua língua,
E afaguei tuas cáries latinas
 Tua imensidão sacrifica minha alma
Eu sei de tuas mentiras
De tuas salivas verdes escorrendo sobre o tapete vermelho

Eu poderia te amar como um acéfalo
Eu poderia fingir que tu não existes,
                       Mas continuo nu após as refeições
Eu sou o que te engasga e o que te adora

Eu sou o sacrifício da mais pura beleza,
Porque herdei tua pomba-gira-da-desgraça
Por que herdei tua desconfiança nos homens.



II



luva de pelica grudada no parapeito da discórdia
um protótipo de deus dança desgraçadamente
eu sou uma imitação em revolta
                uma arma contra os castrados da justiça
você poderia viver salgando as asas dos anjos
                matando matando matando
como um personagem de Masculino Feminino.
Deus abriu a porta do céu ao pederasta
           O diabo vomitou sobre minha roupa limpa
Eu posso confiar na discórdia,
     Mas não nas garotas comedidas
comidas por pequeninos falos de seus amantes meio brochas.