segunda-feira, 20 de junho de 2011

bilhete a respeito das unhas

Amor,

pus suas unhas no tempo e, por descuido, elas criaram asas e voaram para deus-sabe-lá-onde. não foi minha culpa. não queria seus dedos desprotegidos nesse inverno. sei bem que logo agosto vai chegar com ele os cachorros da chuva e os meninos benzedeiras de relâmpagos. elas voaram num instante, rapidamente, as asas brotaram ali e elas agilmente desprenderam-se dos pregadores e voaram. será o meu desgosto eterno esse meu querer fazer o mimo e tudo dar errado como nesse momento em que saí no quintal da minha alma e vi elas voando em direção ao sol com lancheirinhas cheias de minúsculas amêndoas para se reabastecer no caminho, ao que me parece, um árduo caminho. recolhi meus apatrechos de caça para buscá-las, mas elas são realmente fortes e acabaram por rasgar a fina rede de meu instrumento. não se zangue, não se zangue, não pude evitar, era apenas um mimo.

Pérsio Gonzales       

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