sábado, 19 de março de 2011

Honey,

gostaria que você soubesse que os pêssegos e as ameixas ainda não estragaram. Ainda tento interpretar o seu olhar na janela quando está fumando, o jeito que você arruma seu corpo quando se senta, o jeito que você arruma o cabelo deixando-o todo do lado direito do corpo. Alguns pêssegos mofaram. Nem todos. As ameixas queimam no frio da eterna geladeira que é o meu peito. É engraçado, mas você não me faz falta alguma. Não precisa voltar. Deixe assim, meio ímpar, meio intacto o tudo aquilo que uma noite fizemos. Ou então faça assim, me apareça de surpresa numa noite de segunda feira, uma noite dessas em que parece estar chovendo dentro da alma (ou que parece que existe uma torneira quebrada na alma), e traga cigarros, e pergunte se ainda quero você e me ouça responder que não, porque certamente eu logo mudarei de idéia, eu logo te convidarei para entrar, eu logo falarei para você deitar sobre a cama... faça assim.
Sabe, hoje eu acordei meio azul, eu estou azul, eu não quero mais essa vermelhidão que há muito vem me consumindo dia a dia. você também poderia deixar para um encontro casual em sei lá, uma loja, por exemplo, uma loja onde eu esteja ali, procurando algum livro bom para passar a tarde, ou comprando uma camisa vinho de risca. não sei. deixe como está tudo sem miséria, sem piedade um do outro, sem apreço consumado na cama. eu não te amo, mesmo. E essa não é mais uma de minhas frases de efeito. você não é você e eu não sou eu ainda. se o amor acontece assim, sem explicação, ou com as melhores das explicações do tipo: porque era ela, porque era eu. nenhum de nós somos ainda ela ou eu.
 É, honey, ainda não nos amamos ainda não nos sentimos prontos para amar um ao outro assim no meio do de repente, porque ainda não existe no entanto no meio da noite assim enquanto eu durmo e você fuma aquele ultimo cigarro antes de dormir, entende? A única coisa que eu queria era deixar você bêbada chapada e nua na beira da estrada e levar seu coração comigo e nunca mais te ver. Pode ser assim entre nós? ou precisa ser aquele fogo, aquela chama que se apaga e aí logo vem aquela coisa imbecil que as pessoas fazem umas pelas outras que é ficar junto e deixar que o mundo estrague o tudo e o todo. Aí virá aquela coisa de suportar ou não ficar com a outra pessoa. Eu não quero isso entre nós. eu não quero acordar do seu lado e ver que não é do seu lado que eu queria estar. Eu não quero querer bem. Só a doença do começo, a doença da paixão do querer estar junto e tudo e não poder porque você não pode se mostrar para a pessoa da forma que você realmente é, você só pode se mostrar do jeito que você é por fora, porque é só pelo de fora que as pessoas se interessam, o de dentro é muito chato, é muito infantil, é muito estranho. Faça assim: espere a chuva; saia de casa e compre cigarros; venha a pé; chegue de surpresa no meio da noite e me chame sussurrando na janela; fale que você trouxe cigarros, mas eles já estão todos molhados; pergunte se eu tenho algum conhaque, alguma coisa para esquentar; se pode tomar banho; e depois se deite, se deite e me aceite.

Sem mais,


Pérsio.     


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