sexta-feira, 25 de março de 2011

Aos deuses que nasceram nas latrinas

I

“Olhai o cintilante conteúdo das latrinas”

Roberto Piva

Olhos de Velásquez teu corpo arderá em brasa nessa noite que escorre noturna como uma leucemia em nosso suor latino. Após me deleitar com seus cabelos de medusa, arrancarei teus olhos e te farei uma mondigliana Eu quero me banhar em sonetos noturnos de Jorge de Lima e tomar conhaque com naftalina fosforescente em mil tons agudos de Schumman. Assim como os violoncelos eu torcerei o teu pescoço nu e habitarei para sempre teus pesadelos e a tua boca inflamada. Descerei por tua garganta como um faraó maldito e em seu intestino recitarei poemas de Rimbaud. Assumirei a posição fetal e renascerei cagado em um sábado cinza que tu nunca esquecerás nem o modo libertino como sairei galopando em um pônei com asas de morcego cantarolando libertango e alimentando os fantasmas absolutos que se formam nas latrinas entupidas.    

Dedicado à Olhos de Velásquez

II

Os porcos mutilados comem as flores do jardim da América enquanto somos todos acometidos pela crise epilética da asfixia absoluta. Não tomarei este copo de poeira e sangue verde Não comerei orelhas de padres grelhadas no jantar. Centenas de ovos de codornas foram plantados nos cus dos hermafroditas utópicos enquanto putas sádicas corriam pela noite com seus chicotes de chacina. Escreverei meu nome com gilete nas tuas costas nuas esta noite. Lambendo cada gota de teu suor misturado com câncer e enfiando as chaves de deus no teu rim para abrir as portas de teu intestino. Não te preocupes não tenhas medo eu sou piedoso eu sou meio broxa eu sou meio afetado pela crise diabólica do capital. Escuto rock nas quintas à noite, mas sexta é samba. Quase morri com conjuntivite mas renasci no sábado em meio a neblina blasfematória me masturbando sobre o cinzeiro. Eu sou meio deus mas não sei perdoar. poderia te abraçar agora e te fazer sumir da terra te acoplando no meu peito. Vou espetar um milhão de pregadores na tua carcaça e te colocarei ao sol para ver a tua alma morrer de câncer de pele.

III

“contra tudo que não for loucura
ou poesia”

Jorge de Lima


Auto retrato de Mondigliani. Olhos marrons como cor de bosta nova. Antonia com tua cara de maçã. Retratos de mondigliani com seus olhos transpassados pela angustia. Não há solução. Nós morreremos de tédio cortando cebolas aos domingos sem fazer pactos macabros ou trapaças.

             Os deuses já se prostituíram
O amor é uma lenda no teu coração.

IV

Nós adentramos o mundo da magia pelo teu rim amaldiçoado. Os corações foram guardados em caixas de gelo seco & nosso espetáculo trashman arderá quando soarem as harpas dionisíacas. Elas começaram por comer toda a merda da vida elas começarão por convencer a todos a levarem adiante a merda da vida. Hoje entraremos nos casulos dos teus seios, amanhã sairemos borboletas mortíferas e promiscuas. Amanhã compactuaremos com as religiões indígenas. Faremos festas aos nossos totens, orgias/ cem mil orgias/ o mundo espetaculoso das drogas ilícitas nos espera. A paixão          febre contaminosa          dilacerando os corações amorfinados nós queremos mil paixões e menos tédio. Nós preferimos a crueldade dos mafiosos À burocracia dos funcionários. Nós louvamos os banheiros públicos e seu silêncio frente às taras libertinas. é necessário esquecer que há o futuro e celebrar com paixão o ócio e a selvageria.

V

Ao som de Waka/Jawaka de Frank Zappa

Tua alma tem mil isqueiros onde a noite arde. Teu cérebro goteja na retina das putas de família. Peça a benção ao deus ensurdecedor Escute o seu coração bater em mil em mil macumbas nos terreiros das periferias perdidos entre os amores não vividos. Nossa noite no inferno nunca teve um fim nossa noite no inferno é uma bênção ao coração contaminado pela bondade. Ouço soar as trombetas de Dionísio vejo Adriano, o imperador, encolhido num canto de um quarto escuro com uma rosa de espinhos enfiada no cú lembrando o deus menino afogado na beira do Nilo. Não há suor bastante para conter a nossa angústia. Nossa noite no inferno nunca teve fim.

VI

Vem buscar-me que ainda sou teu. E se você entrasse no quarto da minha alma com jabuticabas frescas e amoras espremidas no olho que já não vê eu te amaria ainda uma vez? Vem buscar-me que ainda sou teu: e te desejo, como se te perdesse para uma cabra fétida (reflexos de Kosisnki em seu Pássaro Pintado), e eu te desejo como um assassino à vitima. E se você entrasse na avarandado do meio peito iluminada pela discórdia eu te abraçaria como se a ultima vez, e sim ela seria, porque depois do afago: a dor. e o punhal já estaria em minha mão esquerda pronto para invadir o teu corpo virgem por uma única vez. Vem buscar-me que ainda sou teu...

Após Coração Materno, Vicente Celestino,
a canção que leva a crueldade humana à prova. 






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