quarta-feira, 24 de agosto de 2011

eu canto

“após reler poema XXXII da Invenção de Orfeu
& Lorca”
para ler
ao compasso de Libertango, Piazzolla
Os sete olhos de Jorge de Lima atestam:
a fome dos navios
              ancorados nas costas de Murilo Mendes.
guindastes agonizando o falos da morte
não deixavam a velha fumante dormir
& nem o seu cachimbo
& nem o seu aborto
& ele ainda inventava o Orfeu
            ele ainda sonhava com notas celestiais
vindas de pianos bacantes
ancorava seu navio no espaço
com um acerto crasso
a um passo da morte
            as erupções corporíferas
 e as células de poesia e delírio
do garoto bêbado caído nos sonhos
de vazio
das tardes torpes e insolentes
& ele me disse que era o pão e o vinho
 disse que cultuava Breton, Artaud,
 Rimbaud  
    com palhaços da infância jogados no vazio

ele uivava pelas ruas surrealistas
alertando os ouvidos das pétalas
enquanto eu lia Lorca
                      & o dois era a guitarra onde o amor se desespera
                     enquanto eu tinha fome
& mães ciumentas que me acariciavam
eu – o feto embriagado –
porque sou todavia violento
porque sacudo o corpo em direção ao sol
porque uso ácidos
porque sou rebelde
anarquista
& o palhaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário